quarta-feira, 21 de setembro de 2011

PROFERIDO ESTÁ 07


Milton Santos:
O Brasil, pelas suas condições particulares desde meados do século 20, é um dos países onde essa famosa indústria cultural deitou raízes mais fundas e por isso mesmo é um daqueles onde ela, já solidamente instalada e agindo em lugar da cultura nacional, vem produzindo estragos de monta. Tudo, ou quase, tornou-se objeto de manipulação bem azeitada, embora nem sempre bem-sucedida. O Brasil sempre ofereceu, a si mesmo e ao mundo, as expressões de sua cultura profunda através do talento dos seus pintores e músicos e poetas, como de seus arquitetos e escritores, mas também dos seus homens de ciência, na medicina, nas engenharias, no direito, nas ciências sociais. Hoje, a indústria cultural aciona estímulos e holofotes deliberadamente vesgos e é preciso uma pesquisa acurada para descobrir que o mundo cultural não é apenas formado por produtores e atores que vendem bem no mercado. Ora, este se auto-sustenta cada vez mais artificialmente mantido, engendrando gênios onde há medíocres (embora também haja gênios) e direcionando o trabalho criativo para direções que não são sempre as mais desejáveis. Por estar umbilicalmente ligada ao mercado, a indústria cultural tende, em nossos dias, a ser cada vez menos local, regional, nacional. Nessas condições, é frequente que as manifestações genuínas da cultura, aquelas que têm obrigatoriamente relação com as coisas profundas da terra, sejam deixadas de lado como rebotalho ou devam se adaptar a um gosto duvidoso, dito cosmopolita, de forma a atender aos propósitos de lucro dos empresários culturais. Mas cosmopolitismo não é forçosamente universalismo e pode ser apenas servilidade a modelos e modas importados e rentáveis.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

PROFERIDO ESTÁ 06


Arthur Rimbaud, em Iluminuras:

Tu te pões a trabalhar: todas as possibilidades harmônicas e arquiteturais vão se comover ao redor de tua cadeira. Seres perfeitos, imprevisíveis, vão se oferecer às tuas experiências. Em tuas imediações, fluirão em sonhosa curiosidade das antigas multitudes e luxos ociosos. Tua memória e teus sentidos serão o único alimento de teu impulso criativo.
Quanto ao mundo, quando tu saíres, o que ele será? Em todo o caso, nada dessas aparências atuais.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

DICAS DA SEGUNDA 06


Em pé, abra as pernas*. Encaixe as mãos nas virilhas, de forma que cada mão segure a parte interna de uma das coxas. Flexione levemente os joelhos. Engula a saliva que estiver na boca. Assim como está, caminhe até um espelho. Observe o caminhar. Em frente ao espelho abra bem os olhos e escancare a boca, colocando a língua para fora. Mantenha-se assim até não mais conseguir segurar gargalhada. Enquanto ri, desmonte a posição e, ainda em frente ao espelho, relaxe por uns momentos balançando o corpo, feito joão-bobo. Saia da frente de espelho e dê uma volta pelo ambiente, observando-se. Volte para o espelho e inspire profundamente. Retenha o ar enquanto conta mentalmente até 21. No 22 solte o ar dizendo, para sua imagem no espelho: Eu ein? Tem cada maluco neste planeta! De um tchauzinho para si mesmo e, vivas!, comece seja lá o que for. 

* Se preferir (e puder), antes, dispa-se completamente.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

PROFERIDO ESTÁ 05


Friedrich Wilhelm Nietzsche, em Além do Bem e do Mal:

A independência é o privilégio dos fortes, da reduzida minoria que tem o calor de se autoafirmar. E aquele que trata de ser independente, sem estar obrigado a isso, mostra que não apenas é forte, mas também possuidor de uma audácia imensa. Aventura-se num labirinto, multiplica os mil perigos que implica a vida; se isola e se deixa arrastar por algum minotauro oculto na caverna de sua consciência. Se tal homem se extinguisse, estaria tão longe da compreensão dos homens que estes nem o sentiriam nem se comoveriam em absoluto. Seu caminho está traçado, não pode voltar atrás, nem sequer lograr a compaixão dos seres humanos.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

DICAS DA SEGUNDA 05


Onde estiver, escolha uma das janelas e vá até ela. Lá, fique de costas para a paisagem. Ouça os sons que vem de fora. Escolha um e imite-o, primeiramente baixinho, até sentir confiança. Assim que achar que está bem treinado, vire-se e emita o som janela à fora, o mais alto possível. Imediatamente se agache ou se esconda. Divirta-se com a delícia da molecagem. Pronto! Agora é voltar ao que estava fazendo ou começar seja lá o que for.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

PROFERIDO ESTÁ 04


Contra os Intelocratas - Olavo de Carvalho, no livro O Imbecil Coletivo.

É voz corrente, se não convicção unânime entre os intelectuais brasileiros, que a produção cultural no Brasil decaiu em qualidade ao longo das três últimas décadas. A esse reconhecimento do mal não se segue, porém, nenhuma tentativa de debater e investigar suas causas e os meios de curá-lo. A constatação do estado de fato, ao esgotar-se em si mesma, torna-se resignação fatalista ou cinismo complacente. Isto mostra que, na vida cultural brasileira, o que decaiu não foi somente a produção — a manifestação exterior —, mas a motivação íntima, o nível de comprometimento dos intelectuais e artistas com os valores que nominalmente legitimam sua atividade.

Texto completo: http://pt.scribd.com/doc/58711149/13/CONTRA-OS-INTELOCRATAS-85

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

DICAS DA SEGUNDA 04


Em algum momento do dia, lembre de levantar a cabeça. Olhe para cima e explore o que vê por algum tempo. Volte ao que estava fazendo. Desconcentrou-se? Muito bom! Vá pegar um copo com água. Beba gole a gole, “mastigando” a água. Enquanto bebe, procure perceber/sentir o seu coração batendo – a pulsação do sangue nas veias. Ao fim, encha novamente de água o copo. Não beba. Simplesmente jogue a água fora, vagarosamente. Se, após isto, sentir ânimo para voltar ao que estava fazendo, volte e se observe nas possíveis mudanças de estado de espírito. Caso não se anime a voltar, dê as costas ao que estava fazendo e comece seja lá o que for.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

PROFERIDO ESTÁ 03


Por Nise da Silveira:

A sombra, em sentido psicológico, faz parte da personalidade total. As coisas que não aceitamos em nós, que nos repugnam e que, por isso, reprimimos, nós as projetamos no outro, seja ele o nosso vizinho, o nosso inimigo político ou uma figura-símbolo, como o demônio. E assim permanecemos inconscientes de que as abrigamos dentro de nós. Lançar luz sobre os recantos – as sombras – tem como resultado o alargamento da consciência. Então, já não é o outro quem está sempre errado, Descobrimos que frequentemente a “trave” está em nosso próprio olho. Quanto mais a sombra for reprimida, mais se tornará espessa e negra.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

DICAS DA SEGUNDA 03


A grande maioria de nós possui duas mãos com cinco dedos em cada uma, totalizando dez dedos. Pois bem, lave as mãos e enxugue-as. Em pé, coloque suas mãos, com as palmas voltadas para si, diante dos seus olhos. Dirija o olhar para cada um dos dedos, partindo do dedão da mão direita e indo até o dedão da mão esquerda; depois faça o movimento inverso, da esquerda para a direita. Feche os olhos, inspire profundamente e solte um latido qualquer. Ouça o som que emitiu. Abra os olhos e visualize as mãos. Feche as mãos e dê três batidinhas (soquinhos), uma na outra. Depois disto, leve as mãos fechadas e as apóie na cintura, mantendo os braços armados (como asas de xícara). Abra as pernas, solte o quadril e, enquanto chacoalha os ombros, repita três vezes: Muito Bem!!! Relaxe os braços e com os dedos distribua coçadinhas leves pelas nádegas, púbis, genitais, barriga, peito e costas. Relaxe. Feche as pernas e traga novamente as mãos para diante dos olhos. Repita a sequência do direcionar o olhar para as pontas dos dedos. Feche os olhos e inspire profundamente. Repita o latido. Abra os olhos e dê uma lambidinha em cada palma da mão. Lave as mãos novamente e comece seja lá o que for.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

PROFERIDO ESTÁ 02



Por Juddu Krishnamurti, em O Homem e seus Desejos em Conflito.

O Eu não está contaminado pela sociedade; ele próprio é a contaminação. O "eu" (fruto do pensamento) é uma coisa que se formou pelo conflito, pela inveja, pela ambição e o desejo de poder, pela agonia, o sentimento de culpa, o desespero. E pode esse "eu" dissolver-se sem conflito? O próprio ato de perceber inteiramente esse processo constitui a sua dissolução, não se precisa fazer esforço nenhum para dissolvê-lo. Perceber uma coisa venenosa é abster-se de tocá-la.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Dicas da Segunda 02


Tire o sapato, as meias e o cinto (se houver um) ou desabotoe a calça ou saia e deite confortavelmente em seu local de dormir. Feche o olho direito, e com o esquerdo explore a visão que tem do espaço. Feche o olho esquerdo e, agora, explore com o direito. Feche ambos os olhos e inspire profundamente. Sem expirar, levante as costas e sente-se. Expire lentamente. Escolha uma direção qualquer para sua cabeça e abra e feche rapidamente os olhos. Tente lembrar do que viu. Repita isto por sete vezes, em direções diferentes. Inspire profundamente e retenha o ar. Deite-se novamente e expire lentamente. Abra os olhos muito lentamente enquanto junta as palmas das mãos sobre o tórax. Com os olhos já abertos, bate palmas na seguinte sequência. Uma vez, três vezes, sete vezes e onze vezes. Expire profundamente e ao inspirar, levante-se também lentamente. Em pé, dê três pequeníssimos pulos e cantarole o trecho de uma canção que você gosta (não se incomode se a calça, ou saia, ou etc, cair – aproveite e divirta-se com isto). Depois disto, comece seja lá o que for.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

PROFERIDO ESTÁ 01


Por OSCAR WILDE, em A Alma do Homem sob o Socialismo.

A maioria dos homens arruína suas vidas por força de um altruísmo doentio e extremado - são forçados, deveras, a arruiná-las. Acham-se cercados dos horrores da pobreza, dos horrores da fealdade, dos horrores da fome. É inevitável que se sintam fortemente tocados por tudo isso. As emoções do homem são despertadas mais rapidamente que sua inteligência; e, como ressaltei há algum tempo em um ensaio sobre a função da crítica, é bem mais fácil sensibilizar-se com a dor do que com a idéia. Conseqüentemente, com intenções louváveis embora mal aplicadas, atiram-se, graves e compassivos, à tarefa de remediar os males que vêem. Mas seus remédios não curam a doença: só fazem prolongá-la. De fato, seus remédios são parte da doença.

Buscam solucionar o problema da pobreza, por exemplo, mantendo vivo o pobre; ou, segundo uma teoria mais avançada, entretendo o pobre.

Mas isto não é uma solução: é um agravamento da dificuldade. A meta adequada é esforçar-se por reconstruir a sociedade em bases tais que nela seja impossível à pobreza. E as virtudes altruístas têm na realidade impedido de alcançar essa meta. Os piores senhores eram os que se mostravam mais bondosos para com seus escravos, pois assim impediam que o horror do sistema fosse percebido pelos que o sofriam, e compreendido pelos que o contemplavam.



terça-feira, 9 de agosto de 2011

Dicas da Segunda 01


Pegue um copo com água e uma xícara com café. Coloque-os em sua frente, sobre uma mesa ou similar. O dedo do meio da mão esquerda, mergulhe no café; o da direita, mergulhe na água. Feche os olhos e descreva seis círculos no céu da boca, com a ponta da língua; três para a esquerda e dois para a direita. Relaxe a língua e inspire profundamente. Retenha o ar por alguns segundos. Pisque rapidamente vinte e uma vezes e solte o ar lentamente. Mantenha os olhos fechados e retire os dedos do café e da água. Sinta a temperatura. Leve, ao mesmo tempo, os dois dedos à boca. Chupe-os. Abra os olhos e veja o que está para além da janela. Tome sete goles da água e três do café, observando a paisagem. O restante da água, verta num vaso ou na terra. O café, verta sobre os pulsos, e depois, esfregue um no outro levemente. Lave os pulsos em água corrente, enxugue-os e pronto, comece seja lá o que for.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

AGIR

O buraco é muito largo e não cabe dentro (do peito).

Dentro muitas coisas se acumulam (no peito).

Acumulam abstratas sensações inclassificáveis (pelo peito).

Inclassificáveis, patológicas se mostram (ao peito).

Mostram a característica do que ocorre (na mente).

Ocorre desde há algumas horas (pela mente).

Horas onde a consciência largou o leme (à mente).

Leme frouxo, buraco grande (da mente).

Grande espaço para fina percepção (do corpo).

Percepção aliada do centro (no corpo).

Centro que é eixo (do corpo).

Eixo da ação (pelo corpo).