terça-feira, 28 de julho de 2009

+ AS HORAS E A BENÇÃO

E TEVE MAIS:

Horas testemunhando a força, vigor, alegria de alma, generosidade de uma moça linda, a Izaura, de 77 anos, que estava ali, sempre presente, constante, confiante, vibrante e distribuindo beijinhos amorosos, comentários lúcidos e poéticos e sorrisos de covinhas. Isto sem falar nas belíssimas cenas que presenciei, onde ela, debruçada sobre ele, bem juntinho e entre carinhos e beijinhos, sussurrava coisinhas que só os dois compreendiam (e o universo todo ouvia)!

AMO e repito: HORAS MINHAS, NOSSAS, VOSSAS! VIVAS!

AS HORAS E A BENÇÃO

HORAS (com Adir)


Caótica estas últimas duas semanas, hein!!!
Que saibamos permitir ao caos e seus “rearranjos” vitais (embora por vezes desconfortáveis)!

Quanto a mim, na parte “saúde” do caos, aprendi prá caralho ao passar uma noite com meu pai hospitalizado, recém operado, todo entubado e tendo delírios e confusão de memória.

Horas eu era o Jorge Fatuch, seu amigo de juventude, e tinha 88 anos.
Horas eu era o Rubens, este aqui (eu acho).
Horas eu era um completo desconhecido que não o deixava ir para casa, avisar a esposa que estaria preocupada com sua ausência.
Horas eu era o amigo, ajudando a limpar sua bunda, e a quem ele dizia: Estou passando por uma fase muito difícil, meu amigo, mas vou sair dela logo, logo!
Horas ouvindo-o render graças aos cuidados de todos que estão à sua volta: as enfermeiras, minha mãe Izaura, minha irmã Leila, à acompanhante de seu colega de quarto...
Horas sem ouvir um palavrão, reclamação vitimizada, xingamento ou silêncio martirizante.
Horas embalado pela poética do menino de 82 anos, brincando de fazer esculturas com a coberta, empurrando a cama para tentar escapar sem ser percebido, contando histórias de uma vida inteira – sempre e a todo o momento dizendo: É uma benção, meu Deus! É uma benção!
Horas ouvindo-o descrever a bela chácara que estava vendo, em seu delírio, e também as lindas propagandas que descrevia estarem pelas paredes. Teve também o horizonte colorido, bem na linha que divide a parede e o teto – tão belo quanto um bom Van Gogh.
Horas com um homem forte e emocionado que, por contingências óbvias, é meu pai.
Horas sem saber quem era eu, para ele.
Horas sem se importar com isto.
Horas vendo, sentindo e ouvindo sua essência – a dele – se exercendo.
Horas em que aprendi o real estado de relação entre duas pessoas, onde a consciência e memória estarem presentes é o que menos importa.
Horas de comprovar o quão tolo é sofrer com o sofrimento.
Horas para testemunhar a liberdade da existência.
Horas atualizando a realidade a cada novo momento, delírio, fato, encontro e desencontro.
Horas: Uma Benção, Duas Bênçãos, Dez Bênçãos, Muitas Bênçãos!
Horas em que a vida me mostrou ser ela infinitamente maior do que a morte, do que os laços sanguíneos, do que os desconfortos físicos...
Horas onde o amor incondicional passeava sem a menor necessidade de conivência consciente de qualquer um de nós que estávamos ali.
Horas abençoadas e libertárias!
Horas minhas, nossas, vossas!!!