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Pilulas De Caos - Inquietudes Rumo Ao Pouso - Histórias & Historietas
Bem legal o aplicativo gratuito, que permite que a leitura seja feita tanto no computador como no smartphone ou tablet: KINDLE
A proposta ao escrever estes pequenos textos
foi a de permitir momentos de caos, a fim de que através da livre observação de
sua expressão fosse possível a percepção de sua ordem intrínseca, presente em
subjetividade que poderia ser experimentada à revelia da desordem formal
aparente.
O processo consiste em deixar vir, no sentido
de permitir que a escrita flua sem que se esteja atento à racionalização da
estrutura e organização em torno de alguma ideia pré-estabelecida.
Em todos os textos a decisão de escrever nasce
de um insight, um clarão impactante, vindo de forma espontânea e em momentos
diversos.
Para uma melhor fruição, apenas leiam palavra
após palavra e deixem que a intuição ou insights espoquem possibilidades de
significado. Não queiram retê-los, pois o importante é não permitir que se
apodere o desejo de entender/decifrar o que está escrito. A grande experiência
com estes textos é observar desinteressadamente as imagens e significados que
surgem e observar sua “dança” ao redor de você.
Uma pílula:
Uma pílula:
treina treno tremo só de pensar que treinando a tremer no trenó de algum um único eu
todo santo de existência profícua possa saber de mais e mais do que a maioria
que também treina – só que sem trena – a
trena que conta que não é trena de medir que não é trena de esticar que não é
trena de trena conhecida no um mais dois mais três que dão algo lógico e também
abstrato mas abstraído da vívida poética desmedida e vivente
sim possa eu saber mais tremendo mais que estes
que não chegam que não chegam lá que não chegam lá na ponta na ponta – a ponta
da ponta que toca a bola intumescida esticada fina película apta ao rasgo
explosão boooooommmmm que encharca lava e leva para outro estado lugar que este
o de aqui - deste aqui já repetido em mim e por mim todos vocês nós temerosos e
trementes trêmulas mãos e pernas e línguas e dedos unhas cabelos células grupos
de partículas nada particulares ovulozóides multiplicando mais e mais dentro e
fora até formar a forma que sente pensa e age em fuga tempo o todo medo da
ponta na bola
entre adentre e trema tudo todos explodidos
medos de disseminar a si próprio em rastilhos de novos e novas do avesso
desdobradas e reveladas para enfim destreinadas gentes
Esta seleção de textos escritos entre os anos
1990 e 2016 propõe reflexões sobre assuntos envolvendo o tema conflito
psicológico. A partir de abordagem poética, os textos revelam inquietudes
nascidas no dia a dia. A força das palavras que, encordoando-se em sentidos,
materializam voz àquilo que inicialmente era apenas percepção abstrata.
Uma inquietude:
Uma inquietude:
No conceito morte, aqui não abordo a morte
biológica (embora o caminho certamente seja o mesmo), está implícito o
desaparecimento do observador que, de forma distanciada, reporta elementos
constitutivos da percepção de que se está vivo, de que se tem uma vida “minha”.
Medo da morte é o medo do desaparecimento deste observador a quem se acredita
ter sido outorgado o papel de afirmar e reafirmar a imagem que se tem de si e
do mundo, a identidade que se constrói de si, do outro e do mundo. O desaparecimento deste
observador é entendido como o desaparecimento do conteúdo daquilo que “entendo”
por “mim”. Este conteúdo está relacionado com a memória (psicológica)
acumulada, que eu chamo de literatura pessoal.
As perguntas revolucionárias feitas pelo pensador indiano Jiddu
Krishnamurti propõe, talvez, um fio de Ariadne: É o observador separado da
coisa observada? É o experimentador separado da coisa experimentada?
E reflito: não estaria no território gerado por
esta separação o solo onde cresce o medo psicológico e floresce a dissociação
que frutifica em conflito? Não estaria aí o nascedouro de grande parte do
sofrimento humano, que faz com que as pessoas desejem tanto a morte a ponto de
horrorizarem-se com a possibilidade de sua existência?
O livro é composto de pequenas histórias desenvolvidas a partir de
observações sobre a vida alheia, vivências pessoais ou lampejos imaginativos.
Abordam temas ora sérios, ora divertidos. Através de vários formatos
narrativos, de modo geral, os textos propõem reflexões sobre as provocações
lançadas pelo viver.
Uma historieta: A CARRUAGEM
Uma historieta: A CARRUAGEM
Um cocheiro, em mais um dia de trabalho,
conduzia sua carruagem. Em determinado momento tudo deu um salto, um pulo, uma
virada, um click, e a carruagem se percebeu consciente e percorrendo uma
sequência ordenada de raciocínio, num prazeroso movimento de lucidez. Naquele
momento entendeu que suas rédeas eram instrumentos do coração; os cavalos, do
instinto; o cocheiro, da razão. Os passageiros seriam as outras possibilidades
de consciência em seu interior; a bagagem, histórias e experiências vividas. E
as rodas? Ah! Certamente instrumentos da liberdade!
Percebeu-se feliz, viva e plena de sonhos,
desejos, fantasias. Sentia-se alimentada de ânimo e coragem para realizações
inomináveis. E se lançou à excitante tarefa.
Mas, antes que houvesse passado um momento
inteiro, fez-se presente um aperto estranho em algum lugar de seu ser.
Prontamente se concentrou em busca de compreensão, e nesta busca constatou que
o ânimo inicial estava sendo dilapidado, roubado, surrupiado. Ah! Olha lá!
Havia se esquecido dos freios - instrumentos do medo, certamente! Foi então, e
exatamente aí, que se descolou da vertigem e viu que a bagagem estava chacoalhando,
os passageiros reclamando, o cocheiro suando e rezando a Deus, as rédeas
descontroladas e os cavalos, desenfreados, de olhos arregalados. Num arroubo
desesperado, devido à constatação de que eram os freios do medo que lhe
ameaçavam, se pôs a gritar, xingar e, aos urros, reclamar. Seu último urro, de
um ódio imenso, ouviu com plena consciência. E foi neste momento que se deu
conta do poder do medo... Então, tudo e todos emudeceram, paralisaram!
A Carruagem sentiu vergonha, mas logo respirou
fundo, enxotou a culpa e, calmamente relatou a todos os envolvidos a visão que
teve.
Os passageiros caíram de joelhos. O cocheiro
sorriu aliviado, refestelado em seu assento. As rédeas cochilaram sobre o lombo
dos cavalos que roçavam um ao outro, namoricando. As rodas apenas pararam de
girar e aguardaram, prontamente dispostas, enquanto o freio babava graxa de
tanto ainda gargalhar. Bastou um olhar de nossa amiga Carruagem para que o
perspicaz cocheiro compreendesse a questão e, num movimento ágil e firme,
soltasse completamente o freio. Ele, o freio, parou de gargalhar; e com a graxa
ainda escorrendo por entre as mandíbulas, chorou lágrimas viscosas.
Naquele momento não houve espaço para palavras,
sentimentos ou qualquer coisa que os valha. A Poesia pousou - preencheu com uma
substância incompreensível todos os ocos e vazios.
E as rodas giraram. Os passageiros chegaram a
seus destinos. As bagagens foram entregues em perfeito estado. O cocheiro
continuou seu trabalho. As rédeas seguiram, repetindo sua coreografia. E os cavalos,
quando não lhes era exigida a força, roçavam-se, namoricando.
A Carruagem? Esqueceu-se de si e segue em seu
leva e traz!
Depois do ocorrido, quem a vê, fica a matutar,
maravilhado, sobre o estranho encantamento que ela exerce... parecendo
possuidora de uma harmoniosidade inatacável e inabalável!
São Paulo, 2011
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